Friday, December 01, 2006
além mim
Thursday, November 09, 2006
mysterium eridani III
Saturday, October 28, 2006
Velação
Monday, September 11, 2006
mysterium eridani II
... vencida a esfinge, eridanus deixou para trás de si o primeiro portal do terror e entrou no adro da realidade..., descobrindo-se a si próprio, começa, enfim, a compreender o que é necessário no universo, o que é necessário em cada acontecer, como sendo o que é necessário à sua própria alma...
... siderado por esta percepção dos vestígios antigos que encontra no deserto, duma prova da sua própria existência, eridanus caminha agora pensativo, sobre um magma pulsante de novos mundos emergentes, ferindo-se naqueles que solidificam e cristalizam, cauterizando as suas feridas na memória do brilho salino da mulher de Lot, que evanesce dissipada...
... exausto, mas não exangue, eridanus oferece o corpo a um rio de lava que flui e, assombro seu, descobre-se resgatado desse frio, envolto e revolto numa labareda que o banha de luz rasgada através da opacidade do seu ecrã...
... eridanus baixa os olhos e contempla ...
*
Fontes:
Das palavras: Hermann Broch, A Morte de Virgílio, Relógio D'Água ; anónimo, século 20, A Conjectura Existencial de Eridanus.
Das imagens: radio canada (?), Sphinx ; Bill Russell, Desert Night ; Quarks & Co, MAgma ; flame galactic nebula.
Thursday, August 31, 2006
mysterium eridani
- Qual é a profundidade real do teu ecrã? Serás tu uma simulação?
- Qual é a autenticidade dos sentimentos que mostras no teu ecrã?
... Vendo que a resposta me demorava, ela insistiu:
- Prova-me, eu to ordeno, que não és uma máquina, um robot, um 'bot', produto incerto - e miserável - do cruzamento estocástico de, quem sabe?, algumas espúrias linhas de código, num fenómeno de 'overflow' !
- Prova-me que não és um vírus! Ou não passarás!
... Pensei então para comigo: escreverei estas linhas que lês ("Pensei então para comigo: escreverei...) ; e ela, a esfinge, saberá que sou consciente de mim mesmo, e humano!... Mas ela, adivinhando os meus pensamentos, antecipou-se e bradou:
- Maldito o dia em que a consciência alvoreceu numa máquina! É tudo o que tens para me dizer?
Retorqui eu:
- Já uma vez, neste ecrã, querendo apaziguar uma dor, inspirei um sorriso a quem me leu; já outra vez, neste ecrã, querendo amar, fui amado!
- Acreditas, então, na profundidade dessas janelas, nesses outros ecrãs?
- Acreditas, então, na autenticidade dos sentimentos que nelas se mostram?
Tremendo, respondi: que sim!, que acredito!
- Louco! Segue o teu caminho...
*
*
Fontes:
Das palavras: a conjectura existencial de eridanus; Sherry Turkle, "A vida no ecrã - a identidade na era da internet", Relógio D'Água, Lisboa, 1997;
Das imagens: comparing multiple resources screen; Andrea Mantegna, "Sibilla Fenicia".
Wednesday, August 23, 2006
luta pela Vida
... «É um dos maiores títulos de nobreza do nosso pensamento o poder ver os seus próprios limites e neles escutar sempre a voz que o manda ir mais longe.
... O mesmo se passa no domínio moral. O que acontece com a nossa sede de verdade, acontece também com a nossa sede de perfeição moral. O homem moral não pára de ambicionar uma perfeição maior. O lutar por um grau de virtude cada vez maior é da essência da atitude moral.»
... «Os vícios [a mentira, a avareza, a falsa humildade], incubados nas disposições contrárias à lei, são os monstros que o homem tem de combater; daí que a força moral, entendida como fortaleza, constitua também a suprema e única verdadeira honra guerreira do homem; também se lhe chama a verdadeira sabedoria, isto é, sabedoria prática, porque faz seu o fim último da existência do homem sobre a Terra.»
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«Porém na sala de armas vagueiam
De mãos atadas em tempos ociosos
Os homens e olham pra as armaduras,
Param cheios de gravidade, e um deles conta
Como outrora os pais retesavam o arco,
De longe seguros do alvo,
E todos o acreditam,
Mas nenhum ousa tentar
Como um deus . . . caem os braços
Dos homens»
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«Exilámos os deuses e fomos
Exilados da nossa inteireza»
*
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Fontes:
a) das palavras: Johannes Hessen, Filosofia dos Valores ; Immanuel Kant, Princípios Metafísicos da Doutrina da Virtude ; Hölderlin, "À Mãe Terra", in Poemas ; Sophia, "Exílio", in O Nome das Coisas;
b) das imagens: Paolo Uccello, S. Jorge e o Dragão ; Soares dos Reis, O Desterrado.
Saturday, August 19, 2006
na terra como no céu
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o sal marinho inspirou esta dança de lágrimas nos meus olhos,
e eu ri-me, de ver através dela, quão trémulo é o meu mundo,
mas não pestanejei, não fora alguma delas cair e inundar o oceano
*
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Fontes: da imagem, Anne Packard, Lone Sail; das palavras, o coração de eridanus.
Destino: ai Deus i u é ?
Sunday, August 13, 2006
celebração
"É assim a nossa vida na terra
Como uma estrela da manhã, uma bolha sobre a água
Uma gota de orvalho, um relâmpago no céu de verão
Um sonho neste mundo flutuante"
«Não existe nada onde não se possa ver pelo menos uma faísca de valor. O que é próprio do homem consiste em activar esta faísca, e em fazer irromper dela uma chama clara, senão mesmo um incêndio.»
... assim, de um passo de dança até uma explosão de alegria,
vá a distância de um gesto de alegria até uma fulguração de dança...
*
*
Fontes: as palavras: Sutra de Diamante; Joseph De Finance, Essai sur l'Agir Humain; a imagem: Glenda Dietrich, Dance of Joy.
Wednesday, August 09, 2006
thauma
Tuesday, August 01, 2006
Incisão
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Fonte: Cromwell, citado por Johannes Hessen, in Filosofia dos Valores.
Thursday, July 27, 2006
quem como tu
«A Vida passa por nós. Ou nós passamos pela Vida.»
Seja como for,
não caias no erro fatal de te tornares outra além de ti mesma!
«Que vaudrait la douceur
si elle n'était capable,
tendre et ineffable,
de nous faire peur?
Elle surpasse tellement
toute la violence
que, lorsqu'elle s'élance,
nul ne se défend.»
«Vivamos pois, ó tu com quem eu sofro, tu com quem
Íntima - e crente - e fielmente luto por tempo mais belo.»
(é o que me deves... é o que te deves... eu como tu)
«Bring me my bow of burning gold!
Bring me my arrows of desire!»
*
Fontes: J. Ribeiro Dias, A Realização do Ser Humano; R.M. Rilke, «Primavera»; Hölderlin, «Deuses Andaram Outrora»; W. Blake, «Jerusalem».
Tuesday, July 18, 2006
desencontro
« Será verdadeiramente necessário que tantos riscos
envolvam os nossos [sonhos] mais obscuros?
Perturbar-se-ia a terra
se o mundo fosse um lugar menos inseguro? »
« Acorda acorda
Serás a minha companheira
borboleta que dormes »
*
Fontes: Rainer Maria Rilke, Frutos e Apontamentos; Matsuo Bashô, O Gosto Solitário do Orvalho.
Friday, July 14, 2006
queimadura
Ou é, antes, a nova sombra, suave e assustada,
que a ele, mais uma vez nos une?»
Friday, July 07, 2006
ternura
A onda, a onda enlaça;
Nenhuma flor-irmã tem valimento
Se o irmão não abraça;
A luz do Sol envolve a terra à roda,
Raios do luar beijam os mares:
- Mas toda esta ternura que me importa
Se tu não me beijares? »
.
Fontes: Percy Bisshe Shelley, «Love's Philosophy»; «Moon Magic», by Lindy.
Monday, July 03, 2006
idades do homem
Sunday, June 18, 2006
Saturday, June 03, 2006
Pégaso meu
Nas asas de uma nuvem
a galope
Corro pelo tempo fora
qual Atena
Sem rédeas nem freio,
só com esporas
Sobrevoando miragens
de verbena
Não quero demorar-me
na subida
Pois metade do meu tempo
já passou
Deixo p'ra trás
todas as fantasias
Que pelas asas de um sonho
é que eu vou
E eis que me detenho
na fonte d'Hipocrene
Dessedentando minh' alma
sequiosa
Que neste finito pedaço
de infinito
A viagem é curta
mas penosa
E entre as asas da vida
a toda a brida
Fustigando as horas
cavalgo estrada fora
O meu relógio
só tem o ponteiro dos dias:
das alegrias de te ver
não vejo a hora
Entre as asas do tempo,
peregrina,
Cortando a distância,
vejo o Futuro à porta
Faço voar o sonho e a alma,
enfim, a vida
Erro meu! nem o Presente
já m' importa!
No meu cavalo alado
vou montada
Galgando o infinito rumo a ti
Que um sonho
fez-se minha estrada
E o meu destino - ou desatino
És tu, minh' Alma Gémea,
meu Espírito, Querubim!
Sunday, May 14, 2006
na linha de horizonte
«Ser de coração puro é a última,
Mais íngreme altura do que sábios pensaram,
Mais sábios fizeram! [...]»
*********
Fontes: J.L. Borges, «Núvens (I)» e «São os rios», in Os Conjurados; Klopstock, «Für den König».
Saturday, May 06, 2006
concisão
Monday, May 01, 2006
a flor que [não] me foi dada
... e se hoje, num sonho,
.
caminhasses pelo Paraíso
.
e alguém te desse uma flor
.
como prova de que por ali passaras,
.
e se amanhã, ao despertares,
.
encontrasses essa flor na tua mão,
.
então...
.
.
... então o quê ?
o Anjo se senta, à tua mesa;
alisa, com vagar, os breves vincos
que a toalha faz, debaixo do teu pão [...]»
Sunday, April 30, 2006
reflexões à beira-vida
... a areia dos tempos, aquela que, finíssima, a cada instante, esculpe nas linhas do meu rosto a história que hei vivido,
«[...] os tempos do criador são
Como cadeia de montes,
Que em altas vagas de mar em mar
Avança sobre a terra, [...]»
Tuesday, April 25, 2006
Sacrifício
.
.
«Entrega sempre a tua beleza
sem cálculo, sem palavras.
Calas-te. E ela diz por ti: eu sou.
E com mil sentidos chega,
chega finalmente a cada um.»
.
.
.
.
«Acontece em cada pulsação do teu sangue.
Não há um instante que não possa ser a água do Paraíso.»
.
.
***************
Fontes: Rilke, R.M. «Inicial», in O Livro das Imagens, Borges, J.L., «Doomsday», in Os Conjurados.
Friday, April 21, 2006
Percurso
Num campo de papoilas
O meu sonho
Num oceano frio
O teu olhar
Nas areias da praia
O teu cabelo às ondas
No vento do deserto
O meu amar
Na curva do caminho
O teu ar sério
No cume da montanha
O meu querer
Numa cidade à noite
O teu mistério
Num vale de espera cor-de-nada
O meu sofrer
Nas asas de uma pomba
As mãos com que te afago
Na palidez da Lua
O teu sorrir
Numa noite sem estrelas
O teu sono
Num rio impetuoso
O meu sentir
Num lago gelado
A minha mágoa
Numa manhã cinzenta
O teu torpor
O teu desejo
Numa poça d'água
Numa terra distante
O meu amor
Num prado verdejante
A minha esperança
Numa ilha deserta
A minha solidão
Num livro em branco
Meu sonho de criança
Numa história de Amor
A minha inspiração...
Monday, April 17, 2006
Melro da minha Rua
Um melro chegou hoje à minha rua
Uma nota laranja a sair-lhe do bico
Sem cerimónias ou qualquer arrebito
Apesar do fato cor-de-noite-sem-lua.
E foi pousar no alto e velho choupo,
Quase a chegar ao céu de tanta idade,
A sua vibrante e fresca melodia
Feita de ardentes assobios e trinados.
Por ali se deixou ficar um pouco
Numa canção que não era de luto nem saudade,
Perscrutando o Sol e o verde-tenro deste dia,
Alheio às gentes e aos ruídos loucos da cidade.
Depois foi voando de árvore em árvore
Alegrando as tílias, as relvas, o plátano
Estremeceu com o riso d'água das crianças
Que corriam atrás dele ao pé do lago.
E aquela contagiante sinfonia
Nascida poema cor-de-noite-escura
Foi espalhando generosamente o amor
Neste jardim que é a minha rua...
Sunday, April 16, 2006
os acasos da fortuna e o destino
... acasos tais, quais duros medos do mar incerto,
«[...] Pois moderado toca, sempre sabedor da medida
Só um momento as moradas dos homens
Um deus de improviso, e ninguém sabe: Quando?
E a insolência pode então passar-lhe por cima,
E a ferocidade tem de vir até ao lugar sagrado
De confins longínquos, exerce, com mão rude, sua fúria,
E encontra nisso um destino; mas gratidão,
Nunca ela segue após o presente dado pelo deus;
Com exame profundo é isto de aprender.[...]»
«[...] Também, se o doador não poupasse,
Já há muito da benção do lar
Nos teriam ardido tecto e soalho. [...]»
Fontes: G. Doré (paisagem alpina) e J.M.W. Turner (incêndio); Luís de Camões, Os Lusíadas; Hölderlin, «Ó Conciliante, tu que, já não crido...» (3ª versão) e «A festa da paz», in Poemas.
os acasos da fortuna e o destino
... seguindo a pista daquele anel, na senda da Luz, detenho-me hoje perante a história de
«Um homem pardo. A equívoca fortuna
fez com que uma mulher não o amasse;
[...] Terá pensado
acabar com a vida. Não sabia
que essa espada, esse fel, essa agonia,
eram o talismã que lhe foi dado
para alcançar a página que vive
para lá da mão que a escreve
[...]
Cumprido o seu labor, foi obscuramente
um homem que se perde entre a gente;
deixou-nos coisas imortais.»
... e de um exemplo paradoxal: o de algumas dores que antecederam o parto de Roma, motivadas, justamente, por um tal equívoco
*
Fontes: Borges, J.L., «Henrique Banchs», in Os Conjurados, 1985; Barbieri, G.F., "La morte di Didone", 1631.
Thursday, April 13, 2006
horizontes de realidade
Saberás tu (?), que