Friday, November 23, 2007

Horizontes III

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... jornada após jornada,
Eridanus medita disciplinado na injunção que lhe é dirigida,
de que seja um vivente.
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Comovido assim, pelo
Amor que move o Sol e os outros astros,
ele assume a tarefa prescrita como auto-revelação
em si mesmo
da Vida que o comanda a esse amor,
da Vida que nisso se lhe doa e o gera.


Eridanus descobre-se, nisto,
a si mesmo como dívida para com os entes que lhe são queridos;
uma dívida urgente e cuja demora de ressarcimento o diminui a ele próprio,
não só aos seus olhos reais,
mas também aos olhos possíveis de Deus.

... ah,

- Isto pode não ser assim, mas penso que é meu dever crê-lo.


... porque o puro impulso moral está orientado para a incondicionalidade; para ele o tempo não existe, e o futuro torna-se para ele em presente, logo que tenha de desenvolver-se necessariamente a partir do presente. Perante uma razão que não conhece limites, a orientação equivale à consumação, e o caminho terá sido percorrido mal tenha sido iniciado.



Envolto na bruma do seu próprio mistério, Eridanus flui

... até que, diante de si,
evanescem os horizontes do mundo;
próximos, oh!, tão próximos que se não deixam agarrar,
eis que se erguem horizontes de vida eterna!


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Fontes:
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Do texto: Michel Henry, «Éthique et Religion dans une Phénoménologie de la Vie», in Phénoménologie de la Vie, Tome IV, Sur l'Éthique et la Religion, PUF, 2004; Dante Alighieri, A Divina Comédia; Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer, Estampa, 1990; José Ribeiro Dias, A Educação do Ser Humano, Didáctica Ed., 2001; Friedrich Schiller, Sobre a Educação Estética do Ser Humano numa Série de Cartas, INCM, 1994.
Das imagens: Randall M. Hasson, Exhortation (If not me, whom? If not now, when?); in Australian Ejournal of Theology... longing for eternal life; Gian Lorenzo Bernini (execução de Antonio Raggi)... interior da igreja de S. André no Quirinal; Mutsumi Ishibashi... floresta de Kumano, Japão; Monte Leconte (?).