Wednesday, August 23, 2006

luta pela Vida

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... «É um dos maiores títulos de nobreza do nosso pensamento o poder ver os seus próprios limites e neles escutar sempre a voz que o manda ir mais longe.
... O mesmo se passa no domínio moral. O que acontece com a nossa sede de verdade, acontece também com a nossa sede de perfeição moral. O homem moral não pára de ambicionar uma perfeição maior. O lutar por um grau de virtude cada vez maior é da essência da atitude moral.»


... «Os vícios [a mentira, a avareza, a falsa humildade], incubados nas disposições contrárias à lei, são os monstros que o homem tem de combater; daí que a força moral, entendida como fortaleza, constitua também a suprema e única verdadeira honra guerreira do homem; também se lhe chama a verdadeira sabedoria, isto é, sabedoria prática, porque faz seu o fim último da existência do homem sobre a Terra.»

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«Porém na sala de armas vagueiam

De mãos atadas em tempos ociosos

Os homens e olham pra as armaduras,

Param cheios de gravidade, e um deles conta

Como outrora os pais retesavam o arco,

De longe seguros do alvo,

E todos o acreditam,

Mas nenhum ousa tentar

Como um deus . . . caem os braços

Dos homens»


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«Exilámos os deuses e fomos

Exilados da nossa inteireza»

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Fontes:

a) das palavras: Johannes Hessen, Filosofia dos Valores ; Immanuel Kant, Princípios Metafísicos da Doutrina da Virtude ; Hölderlin, "À Mãe Terra", in Poemas ; Sophia, "Exílio", in O Nome das Coisas;

b) das imagens: Paolo Uccello, S. Jorge e o Dragão ; Soares dos Reis, O Desterrado.

11 comments:

Su said...

aii a teoria dos valores -hessen-
a teoria do conhecimento-kant-

gostei de ler, mas... les paroles ....

entendo.os/.te, mas o homem cada vez mais se distancia dos valores e "cai" nos ditos "vícios "... pq estamos num mundo do ter e não do ser......

..não eu.... mas muitos....

jocas maradas deste lado do mar

Su said...

aii a teoria dos valores -hessen-
a teoria do conhecimento-kant-

gostei de ler, mas... les paroles ....

entendo.os/.te, mas o homem cada vez mais se distancia dos valores e "cai" nos ditos "vícios "... pq estamos num mundo do ter e não do ser......

..não eu.... mas muitos....

jocas maradas deste lado do mar

Su said...

opssss dupliqueiiiiiiiii:)))))))))

excusez.mois:)

Eridanus said...

Resposta em três andamentos:

* 1º - A Palavra *

«Heraclito de Epheso diz:

O pior de todos os males seria
A morte da palavra


Diz o provérbio do Malinké:

Um homem pode enganar-se em sua parte de alimento
Mas não pode
Enganar-se na sua parte de palavra
»

Eu digo-te: estamos neste mundo, mas não somos dele!

* 2º - És Tu Que Estás *

«És tu que estás à transparência das cidades
Vê-se o Teu rosto para além dos bairros interditos

O mal palpável próximo insistente
Parece tornar-Te evidente.

Sobe do destino uma sede de Ti.
Não somos só isto que se torce
Com as mãos amarradas aqui.»

E eu acrescento: ainda que dele, mundo, nos separe apenas o traço duma palavra!

* 3º - Perfeito é não quebrar *

«Perfeito é não quebrar
A imaginária linha

Exacta é a recusa
E puro é o nojo.»

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(todos os poemas são de Sophia... a carne em que se gravaram, no seu rigor a fogo, de palavras exactas e sofridas, é a minha)

Su said...

eridanus...gostei de ler tracinho te:)

Anonymous said...

(...a carne em que se gravaram, no seu rigor a fogo, de palavras exactas e sofridas, é a minha)





...sinto uma certa tristeza,uma melancolia.Deixaste de dançar Eridanus?



um abraço tão grande.

Eridanus said...

Resposta em três movimentos:

* 1º - interiorizando *

... tudo se passa como se esta luta pela Vida me tivesse sido proposta, ou gravada na carne, antes mesmo de ter sido gerado, no ventre da minha Mãe...

... mas quando se sobe a estas alturas, o ar escasseia, cada respiração é um esforço, senão uma dor (como sabem os alpinistas de alta montanha, e os exploradores dos gelos polares)... a luta nem é contra a natureza, mas sim consigo próprio...

... e o desmoronamento, um certo desmoronamento, é inevitável, «aqui, onde na solitária cruz dos caminhos a dor mortal me derruba, a mim.»

«Ai! por demais violentas, ó alturas celestes, me arrebatais
Para vós; em tempestades, em dia sereno devoradoras
Vos sinto alternar cá dentro do peito,
Ó errantes forças divinas.»

* 2º - rente à pele *

«Agora, como se romper quisesse, à força, a cadeia da dança,
Um corajoso par atira-se pra onde a fila é mais compacta.
Rápido, diante dele o caminho se faz e desfaz-se atrás dele:
Como se feiticeira mão fosse abrir e fechar-lhe a passagem
Olha! Da vista se esconde agora, e em bárbara desordem confundida
Desaba a arquitectura graciosa desse mundo agitado.
Não, de novo lá flutua ele triunfante, desenreda-se a meada;
Com outros atractivos, a ordem ressuscita.»

... ai Deus!, i u é?

* 3º - insolitamente *

...caiu a

«Chuva de Primavera -
Uma menina ensina
O gato a dançar»

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(a poesia é de Hölderlin, de Schiller e de Kobayashi... a tristeza e a melancolia que se sacodem e deixam para trás, para baixo, eram as minhas - obrigado a. -)

Anonymous said...

Não sei o que dizer
...talvez que a deixes
realmente para trás.









Inevitávelmente encantada.
Obrigada lindo Eridanus.

hfm said...

Gostei de ler.

Rosario Andrade said...

Bom dia Eridanus!
Eu penso sempre em moralidade como falsa. A minha teoria é que a moralidade é uma coisa exógena e imposta, o que faz com que a pessoa muitas vezes a defenda em publico mas pratique o oposto em privado. Por oposicao, a ética é uma construcao interior com referencias ao exterior e por isso com bases mais solidas...
Bjico!

Eridanus said...

:) pois eu retribuo, hfm, dizendo que consegui, enfim!, adicionar alicerces e arredores aos meus 'favoritos' (após várias tentativas vãs, de botão direito) :)

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bom dia, Rosário :)

... a princípio, segui com alguma dificuldade o desenvolvimento deste teu raciocínio, por me parecer não ver no que designas por 'moralidade' senão uma disposição de carácter que tem o nome de 'hipocrisia', enquanto acto -humano- de dissimulação do próprio carácter...

já a lei moral, quer na formulação de Kant (age como se a máxima da tua acção se devesse tornar, pela tua vontade, em lei universal da natureza), quer na formulação evangélica (amar a Deus e amar o seu próximo como a si mesmo), quer, porventura, noutras, parece-me antes que se trata de algo em que se prefigura o valor supremo duma conduta boa de vida, logo, da ética...

... não obstante, aproximo-me de ti, se me concederes que essa 'moralidade' de que me falas se confunde com o moralismo reinante, o qual, como bem no-lo denuncia Joseph Ratzinger*, é, acima de tudo, uma pretensão dirigida aos outros, e bem pouco um dever pessoal da nossa vida quotidiana. (... que bem prega frei Tomás... etc)



*in A Europa de Bento na Crise de Culturas, Alêtheia Editores, Lisboa, 2005.