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... Detive-me hoje diante duma esfinge. Esta, determinada que estava, para só deixar passar humanos, perguntou-me:
- Qual é a profundidade real do teu ecrã? Serás tu uma simulação?
- Qual é a autenticidade dos sentimentos que mostras no teu ecrã?
... Vendo que a resposta me demorava, ela insistiu:
- Prova-me, eu to ordeno, que não és uma máquina, um robot, um 'bot', produto incerto - e miserável - do cruzamento estocástico de, quem sabe?, algumas espúrias linhas de código, num fenómeno de 'overflow' !
- Qual é a profundidade real do teu ecrã? Serás tu uma simulação?
- Qual é a autenticidade dos sentimentos que mostras no teu ecrã?
... Vendo que a resposta me demorava, ela insistiu:
- Prova-me, eu to ordeno, que não és uma máquina, um robot, um 'bot', produto incerto - e miserável - do cruzamento estocástico de, quem sabe?, algumas espúrias linhas de código, num fenómeno de 'overflow' !
!
- Prova-me que não és um vírus! Ou não passarás!
... Pensei então para comigo: escreverei estas linhas que lês ("Pensei então para comigo: escreverei...) ; e ela, a esfinge, saberá que sou consciente de mim mesmo, e humano!... Mas ela, adivinhando os meus pensamentos, antecipou-se e bradou:
- Maldito o dia em que a consciência alvoreceu numa máquina! É tudo o que tens para me dizer?
Retorqui eu:
- Já uma vez, neste ecrã, querendo apaziguar uma dor, inspirei um sorriso a quem me leu; já outra vez, neste ecrã, querendo amar, fui amado!
- Acreditas, então, na profundidade dessas janelas, nesses outros ecrãs?
- Acreditas, então, na autenticidade dos sentimentos que nelas se mostram?
Tremendo, respondi: que sim!, que acredito!
- Louco! Segue o teu caminho...
*
*
Fontes:
Das palavras: a conjectura existencial de eridanus; Sherry Turkle, "A vida no ecrã - a identidade na era da internet", Relógio D'Água, Lisboa, 1997;
Das imagens: comparing multiple resources screen; Andrea Mantegna, "Sibilla Fenicia".
16 comments:
Magnífico post! Parabéns!
Escusado será dizer-te que também eu acredito profundamente na autenticidade e na profundidade dos sentimentos daqueles com que comunicamos neste espaço.
Talvez que este acreditar, que esta confiança, seja a inauguração de uma nova consciência colectiva, de uma nova sensibilidade, de um novo sentimento ainda inominável, ou até talvez o ponto de partida necessário ao desenvolvimento de certas estruturas mentais (actualmente sub-sub-desenvolvidas) e de novos processos de comunicação não-virtual mais subjectivos e complexos num futuro mais ou menos longínquo.
E é hipertexto o que escreveste, não é?
Gostei muito.
Beijinhos.
A esfinge.A tua musa.A inspiração.
Marcada,arranhada...perdeu o acreditar.
...não é difícil deixar de
saber onde ele(acreditar)está.
Infelizmente.
beijos meu querido
Eridanus.
Magnifico! Absolutamente fantastico!
loucos enfim somos realmente porque nos deixamos invadir por delícias sentimentais que nos fazem sorrir ou então derramar lágrimas de tanto insistir em seguir por aí...bxox
eu acredito...
jocas maradas de sentires
Bom dia Berenice!
Alegro-me, com o teu agrado :) , e sim, estando já, como sabes, a tratar da incidência dos meus estudos da constituição e da navegação através dos mundos no plano da virtualidade real (por esta ordem, sim) das experiências partilhadas, em rede, a questão da esfinge (e o auxílio da sibila) dão a este 'post' uma essência de hipertexto que noutros (apesar de uma ou outra hiperligação, que este não tem, 'comments' aparte) se notará menos...
... um hipertexto personalizado, como diz Castells (in A Galáxia Internet), dependente da forma como cada um de nós recombina e assimila os elementos tangíveis da sua expressão...
... mas cuidado, menina, repara quanta gente não procura nestes ecrãs senão aquela sorte de excitação pouco profunda mas indefinidamente renovada que entretém no ser humano o sentimento agradável de existir e de agir (afinal, o sonho de qualquer máquina..., antropocentricamente falando)
mas tu, és humana! :)
tal como a.:
extremosa a.:
de carne e coração, como só uma mulher que responde a uma exortação dos Livros da Sabedoria (mais que tudo, vigia..., recordas?) com uma citação do Prólogo pode ser:
filha da luz !
... embora neste teu 'comment' (e naquele post recente, trutina) me surpreendas antes com o teu brilho, triste e faustosa como a noite entre os homens...
... por tudo isto já sonhei... partilhar contigo as ondas da Praia Grande... um dia em que o Tempo, mutável e impetuoso, ruja mais ao longe... e os temporais de Deus rolem sobre nós
... foi acima de tudo por acreditar que venci esta esfinge, que eu próprio inventei e... me chamou de 'louco' :)
oops, acho que cometi uma 'gaffe': ali acima, onde escrevi, de memória, Prólogo, deveria ter escrito Carta... desculpa, a. *suspiro*... enfim, será mais uma evidência em favor da conjectura existencial de eridanus... errare humanum est :)
... já tinha saudades dessa tua escrita Liliana, sê bem vinda, de férias e a este blog... calcar infernos!, sim!, e cantar novos céus e nova terra!, ainda mais! :)
... bem vindo, de volta, tu também Pedro... já pude admirar os teus crepúsculos... ai praias e mares...
... ora phi@, senhora das metamorfoses cintilantes (já vi :) ! ), aí tens, aí está também o que nos torna humanos, amantes e amáveis... o que nos dá valor... aquele valor autêntico que só se conhece como quem sente, com o coração (foi o que aquela sibila me segredou... com isso venci a esfinge :) )
... obrigado frog! ... não terei seguramente chegado a 'essas' alturas, mas esforcei-me :)
... cuidado com os lobos!, querida su do capuchinho vermelho ;)
Sabes...tudo o que te escrevo é apenas aquilo que sinto quando te leio.
Chego a sentir-me meio envergonhada por responder tão simplesmente aos teus textos arrebatadores...imensos de alma
e de paixão.
Sinto que não acompanho como deveria...na realidade é apenas intuitivo o que te deixo por aqui,
entendo apenas por uma qualquer clareza de espírito...e será sempre dessa maneira que vou tentando encontar o caminho que tens tentado mostar sempre que me escreves.
Parece que ainda não o encontrei,nem o entendi nítidamente.
"... por tudo isto já sonhei... partilhar contigo as ondas da Praia Grande... um dia em que o Tempo, mutável e impetuoso, ruja mais ao longe... e os temporais de Deus rolem sobre nós
... foi acima de tudo por acreditar que venci esta esfinge, que eu próprio inventei e... me chamou de 'louco' :)"
...lindíssimas palavras que por aqui deixas...não sei responder prontamente porque não consigo explicar o que estará escrito em cifra...e a tua maneira de dizer vive desse mistério.Decifrar será sempre uma motivação...
:)
Um beijinho muito grande
da Ana.
Bem é a primeira vez que por aqui passo, e fiquei simplesmente colada nas tuas palavras, muito sentido muito belo,Quantas dimensões existirão, onde estara a verdadeira realidade, seremos um sonho, afinal quem somos nós, quantas mensagens nos deixas
beijos
...??
Explica-me lá tudo,tudo,tudo!
...cada dia me deixas mas curiosa
e confusa :/
Beijinho meu querido.
Aprendi de um dos sábios que estudei este Verão, Ana, que quando certas palavras retiniram e encontraram nos corações a fibra que as esperava para vibrar, nada poderá fazer que elas sejam esquecidas, mas foste tu quem "meio envergonhada por responder tão simplesmente", me deu a provar o sabor e o alcance deste saber...
... donde me vem esta esperança?
... não calculo, mas pondero com prudência, estas outras palavras que te dedico:
revelar-tas, é o mesmo que revelar-me, senhora, preciso da tua ajuda
(e tu já ma deste):
é também por um fio, de seda, de intuição, que me deixo guiar para ti, por ti, através da opacidade deste ecrã...
... donde me vem esta esperança?
... caminhando sobre abismos ("terror de te amar..."), como quem navega pelas estrelas, de mar em mar,
e, numa súbita vaga pressente em ti a revelação da sua própria singularidade,
a praia?, o sonho?, a carência?
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No prólogo a um dos seus livros, Jorge Luís Borges escreve: "Seria muito estranho que este livro [...] não encerrasse uma única linha secreta, digna de te acompanhar até ao fim"
:) sabendo ao que me arrisco, invocando perante ti esta constelação de ideias e de palavras, revelo-te a minha (o poema chama-se «Alguém sonhará»):
"Sonhará mundos tão intensos que a voz de uma só das suas aves poderia matar-te"
Serenamente, é apenas um livro, apenas um poema, mas mostra bem, creio, agora, o quanto os caminhos que aqui se cruzam são caminhos que ultrapassam e vão para lá do que se pode ver dos umbrais destas janelas... parece-me por isso também prudente, se não mesmo já devido, que te diga que, se achares bem, podes usar o endereço electrónico que disponibilizo no meu 'blogger's profile'
:) que, a mais do que isto, ainda eridanus se esquiva assustado, pelos meandros duma qualquer floresta perdida
:) eridanus que ainda não sabe
se o que o assusta mais
é sentir-se perdido
ou pressentir-se encontrado,
mas que, enfim, se despede,
com um beijo sentido
mas as máquinas não Sô, as máquinas não...
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Bem-vinda Luna! A gentileza das tuas palavras faz com que o teu regresso seja já um regresso esperado :) um beijo para ti
vencer a esfinge....é bem...mas sou fraca, não consigo...bxox
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a humildade é o mais seguro sinal da força phi@, conhece-te a ti própria!
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como o(a) amante diante da(o) amada(o), bazuco:
a dúvida, que divide e separa,
ou a fé, que une e ampara
"...e não podemos acreditar que debaixo dos nossos pés se está a abrir um abismo incomensurável.
Isso resulta de excesso de
entusiasmo,do desejo apaixonado de abraçar as pessoas,de lhes demonstrar o nosso amor..."
...sempre o meu abraço.a praia.
o sonho...a carência.
Obrigada.
na mouche...fab!
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