Monday, April 10, 2006

o pão e o vinho


ontem, comovi-me de ler que
toda a existência do meu ser se pode identificar, afinal,
com o seu encontro com a vida
e com o espectáculo de si mesmo que nela se lhe entrega



Estão reunidos, perturbados, admirados,
à volta dele, que como um sábio se decide
e que se vai de junto dos seus
e que estranho e fugaz passa ao seu lado.
A antiga solidão cai sobre ele,
aquela que para os seus profundos feitos o educou;
agora voltará a passar pelo jardim das oliveiras
e aqueles que o amam fugirão dele.
.
Convocou-os para a última ceia
e (como um tiro afugenta as aves
do trigo) afugenta ele as suas mãos dos pães
com a sua palavra: regressam voando até ele;
assustadas adejam à volta da mesa
procurando uma saída. Mas ele
está em toda a parte, como um crepúsculo.



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Fontes: Levinas, E., The Theory of Intuition in Husserl's Phenomenology; Rilke, R.M., «A Ceia», in O Livro das Imagens (ênfase minha).

3 comments:

Su said...

gostei de passar por aqui
voltarei mil vezes

jocas maradas

Pedro Melo said...

Oi!
Gostei muito deste post!
Até à proxima!

Eridanus said...

:) o gosto é meu, aliás, nosso, de vos receber, sempre :) 'jocas', Su ; um abraço, Pedro