... a areia dos tempos, aquela que, finíssima, a cada instante, esculpe nas linhas do meu rosto a história que hei vivido,
«[...] os tempos do criador são
Como cadeia de montes,
Que em altas vagas de mar em mar
Avança sobre a terra, [...]»
«Entrega sempre a tua beleza
sem cálculo, sem palavras.
Calas-te. E ela diz por ti: eu sou.
E com mil sentidos chega,
chega finalmente a cada um.»
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«Acontece em cada pulsação do teu sangue.
Não há um instante que não possa ser a água do Paraíso.»
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Fontes: Rilke, R.M. «Inicial», in O Livro das Imagens, Borges, J.L., «Doomsday», in Os Conjurados.
Num campo de papoilas
O meu sonho
Num oceano frio
O teu olhar
Nas areias da praia
O teu cabelo às ondas
No vento do deserto
O meu amar
Na curva do caminho
O teu ar sério
No cume da montanha
O meu querer
Numa cidade à noite
O teu mistério
Num vale de espera cor-de-nada
O meu sofrer
Nas asas de uma pomba
As mãos com que te afago
Na palidez da Lua
O teu sorrir
Numa noite sem estrelas
O teu sono
Num rio impetuoso
O meu sentir
Num lago gelado
A minha mágoa
Numa manhã cinzenta
O teu torpor
O teu desejo
Numa poça d'água
Numa terra distante
O meu amor
Num prado verdejante
A minha esperança
Numa ilha deserta
A minha solidão
Num livro em branco
Meu sonho de criança
Numa história de Amor
A minha inspiração...
Fontes: G. Doré (paisagem alpina) e J.M.W. Turner (incêndio); Luís de Camões, Os Lusíadas; Hölderlin, «Ó Conciliante, tu que, já não crido...» (3ª versão) e «A festa da paz», in Poemas.
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Fontes: Borges, J.L., «Henrique Banchs», in Os Conjurados, 1985; Barbieri, G.F., "La morte di Didone", 1631.
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Fontes: Levinas, E., The Theory of Intuition in Husserl's Phenomenology; Rilke, R.M., «A Ceia», in O Livro das Imagens (ênfase minha).
«[...] Vem também misteriosa; a noite, a sonhadora, vem,
Cheia de estrelas e certo bem pouco cuidando em nós,
Lá vem a admirável, a estrangeira entre os homens,
Com seu brilho, triste e faustosa, por sobre os cumes dos montes.
De maravilhar é a graça da Sublime e ninguém
Sabe donde ela vem e o que dela nos pode suceder.
De tal modo ela move o mundo e a alma esp'rançada dos homens,
Nem mesmo um sábio compreende o que ela prepara, pois
Assim o quer o Deus supremo, que muito te ama [...]»
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Fontes: Hölderlin, Poemas, Atlântida, Coimbra, 1959; Karl F. Schinkel, Die Nacht, 1816