- Qual é a profundidade real do teu ecrã? Serás tu uma simulação?
- Qual é a autenticidade dos sentimentos que mostras no teu ecrã?
... Vendo que a resposta me demorava, ela insistiu:
- Prova-me, eu to ordeno, que não és uma máquina, um robot, um 'bot', produto incerto - e miserável - do cruzamento estocástico de, quem sabe?, algumas espúrias linhas de código, num fenómeno de 'overflow' !
- Prova-me que não és um vírus! Ou não passarás!
... Pensei então para comigo: escreverei estas linhas que lês ("Pensei então para comigo: escreverei...) ; e ela, a esfinge, saberá que sou consciente de mim mesmo, e humano!... Mas ela, adivinhando os meus pensamentos, antecipou-se e bradou:
- Maldito o dia em que a consciência alvoreceu numa máquina! É tudo o que tens para me dizer?
Retorqui eu:
- Já uma vez, neste ecrã, querendo apaziguar uma dor, inspirei um sorriso a quem me leu; já outra vez, neste ecrã, querendo amar, fui amado!
- Acreditas, então, na profundidade dessas janelas, nesses outros ecrãs?
- Acreditas, então, na autenticidade dos sentimentos que nelas se mostram?
Tremendo, respondi: que sim!, que acredito!
- Louco! Segue o teu caminho...
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Fontes:
Das palavras: a conjectura existencial de eridanus; Sherry Turkle, "A vida no ecrã - a identidade na era da internet", Relógio D'Água, Lisboa, 1997;
Das imagens: comparing multiple resources screen; Andrea Mantegna, "Sibilla Fenicia".