Tuesday, January 30, 2007

mysterium eridani IV

... Vagueando pela blogosfera, eridanus foi vencido pelo cansaço e adormeceu. Ao acordar, o seu mundo familiar tinha desaparecido, e o retomar da consciência mostrou-lhe, gradualmente, que ía sendo conduzido, por mão invisível, numa aproximação ao planeta Tao: eridanus acordou num universo remoto, de mundos virtuais desconhecidos:

ali, mal refeito do espanto, eridanus foi surpreendido pelo cair da noite e do que parecia ser uma chuva de luz violeta; tremendo de frio, procurou escapar-lhe, mas acabou sendo atingido por uma gota - seria um programa, um algoritmo flutuante cujas linhas de código logo o teleportaram para outro mundo


... Eriador, foi-lhe murmurado, seria o nome deste outro mundo... ou assim eridanus julgou ouvir, de algumas folhas agitadas pelo vento... um vento que, dissipada alguma névoa mais densa, lhe permitiu entrever a luz bruxuleante de algumas tochas acesas na frente de uma estalagem


eridanus entrou, sentou-se e, num ambiente reminiscente de contos antigos, perdidos na memória, ouviu viajantes que, sem o verem, narravam entre si a fantástica história da sua própria visita ao Castelo Sem Nome... e de como por lá ficara perdido um peregrino chamado... chamado eridanus !


... gritou, mas ninguém ouviu o seu grito,

o sonho e a vigília entrelaçaram-se, veio o dia

e foi sob a luz de outra estrela que eridanus se viu

reflectido nas águas de um regato nas montanhas de Leaves...

*

«Dizer não posso como lá cheguei.

P'lo sono que de pronto me invadiu

Quando da vera estrada me apartei.»

*

*

Fontes: do texto: a conjectura existencial de eridanus; Dante Alighieri, «Inferno», canto 1, 4; das imagens: fotografias de Tao, de Eriador e de Leaves, encontradas num bornal, perdido à beira de uma estrada esquecida.


Tuesday, January 02, 2007

liberdades e comunicação

"Nós, ocidentais, iludimo-nos pensando que somos totalmente científicos e sensatos, que não temos mitos. Mas este é um dos nossos principais mitos."
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"Se o nosso mito-sonho ocidental exige que escravizemos espiritualmente os outros a fim de «salvá-los», não deveríamos surpreender-nos que o mito-sonho deles exija que fiquem completamente livres para se salvarem."

"Mas ambos os mitos-sonhos [...] são apenas expressões parciais e inadequadas de toda a verdade [...]. Os dois precisam um do outro para cooperar no empreendimento comum de construir um mundo adequado para a maturidade histórica do homem."

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Fonte: Thomas Merton, Amor e Vida, Martins Fontes, São Paulo, 2004.