Saturday, February 11, 2006

Calada uma noite escura

...desfez-se o labirinto, esfumaram-se as núvens, então negras, agora transparentes à luz de uma lua vagabunda, rasgando-me horizontes para uma outra e nova vida:


... mas o oceano tranquilo que a prometia cedo se volveu e revolveu, e então foi, que aquela

«[...] aura suave à qual o leme e a vela
passei entrando na amorosa vida
e esperando vir a melhor porto,
me conduziu a mais de mil escolhos [...]»




«[...] Saia eu vivo de assim dúbios escolhos
e chegue meu exílio a belo fim,
que eu anseio por pôr na volta a vela
e âncora lançar em qualquer porto!
Senão que eu ardo como aceso lenho,
tão duro me é deixar a usada vida.

Senhor que és do meu fim e desta vida,
antes que eu parta o lenho nos escolhos,
leva a bom porto a já exausta vela.»


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Fontes: Petrarca, F., As Rimas de Petrarca, V. Graça Moura, trad., Bertrand Ed., Chiado, 2003. Doré, G., Gravura (2ª gravura). www.gutenberg.org (1ª gravura).

1 comment:

Jorge Moreira said...

Belas imagens, poéticas e visuais, numa nostalgia da Alma Portuguesa.
Beijinhos e boa semana.